terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
O Carnaval e a vergonha do evangelho
Em minha infância cristã, poucas estórias foram tão contadas como a de um jovem cristão e seu irresistível desejo de pular Carnaval – a defini como estória por não poder comprovar sua veracidade. Conta-se que este, sempre no período de Carnaval, se desviava e “curtia” os dias de folia regados a drogas, sexo, brigas e noites em claro. Ao término, ele regressava à igreja dizendo-se arrependido e disposto a “voltar” para Jesus. Em que isso resultou? Jesus, não mais disposto a aturar sua inconstância, teria tirado-lhe as pernas em um acidente automobilístico, impedindo-o de pular Carnaval. Desde então ele converteu-se e conta seu testemunho e a lição que aprendeu.
Pode parecer um pouco de exagero esse conto e questionáveis alguns pontos, mas não importa se essa estória é verídica. Ela evidencia a indecisão, muito real e comum para alguns cristãos. E essa indecisão quase sempre vem acompanhada de uma clara vergonha do evangelho e em suas propostas, e a ilustração sobre o Carnaval é apenas um de tantos exemplos. Vergonha do evangelho. Temos de admitir: há pessoas que alimentam esse sentimento e nessa pequena reflexão, eu te pergunto: por que alguns cristãos vivem renunciando a própria identidade e ávidos por desfrutar das ofertas do mundo enquanto se escondem atrás de uma suposta espiritualidade? Não quero ser dogmático nesse assunto, mas há algumas respostas claras.
É fato que nós cristãos vivemos constantemente pressionados pelas posições que assumimos perante quase tudo em nossa sociedade. E essas posições são – ou deveriam ser – uma oposição à cultura que nos rodeia. Somos diariamente ridicularizados por nossas convicções acerca da fidelidade no casamento; da abstinência sexual antes dele; por não consumir drogas, lícitas ou ilícitas; por não festejar como o mundo festeja com todos os ingredientes que citei anteriormente. E, claro, o maior exemplo é o Carnaval que, nesses dias, tem pagãos se deleitando na festa da carne e a maioria dos cristãos enclausurados em retiros. Mesmo o evangelismo nesse período é uma clara mensagem de oposição.
Essa grande guerra a que o crente em Jesus está exposto – sobretudo nós jovens – diz muito sobre nossa firmeza na fé. Enquanto alguns se mantêm inabaláveis e não cedem a essas pressões, outros, no entanto, se entregam. Para estes o que fica evidente é que algumas verdades basilares do evangelho ainda não ganharam a dimensão que deveria em suas vidas. E sobre essas verdades, quero frisar uma. Vamos a ela:
“Por que não me envergonho do Evangelho, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.” (Romanos 1.16.)
Se o apóstolo Paulo disse que não tinha motivo para se envergonhar do evangelho é por que, em seu tempo, para alguns, havia motivo para isso.
O contexto dele é diferente do nosso, mas havia muitas similaridades em relação à oposição do mundo à pregação do evangelho e dos valores morais dominantes em sua época. Se para alguns crer em Jesus era motivo de piada; sobretudo, para os gregos com seu panteão e para os judeus que esperavam um rei poderoso, para Paulo isso era motivo de orgulho, de júbilo.
Por quê? Essa é a questão!
Há uma diferença enorme entre os crentes que assumem publicamente seu estilo contrário ao mundo e de acordo com a Palavra de Deus, e àqueles que, apesar de declararem crer em Jesus, vivem como se não o conhecesse ou se envergonham daquilo que ele exige de nós.
A diferença está em como veem o evangelho. Para admitir a virgindade perante os amigos; para negar-se a consumir bebida alcoólica; para cumprir a fidelidade ao cônjuge e tantas outras coisas é necessário ver o evangelho como ele, de fato, é. E, como bem enfatizou Paulo, ele é o Poder de Deus para a salvação do homem.
Era isso que estava nítido para Paulo e que justificava sua vida por Cristo. Uma vez que ele tinha experimentado esse Poder, que havia sido transformado por ele e que o que valia era a nova vida que Cristo lhe ofertara, tudo mais havia se tornado inútil e a única coisa que o motivava era viver e desfrutar desse poder, que excede todo o nosso entender (Filipenses 3.8).
Logo, está explicado por que alguns sentem vergonha em “remar contra a maré”, enquanto outros o fazem com prazer.
Para esses alguns, o evangelho não se tornou o centro de suas vidas; a futilidade do mundo ante a uma nova vida com Deus por meio de Jesus é algo desconhecido ainda; por fim, falta-lhes o amor quem vem do próprio Deus, em que tudo o que vem dele torna-se o nosso maior objetivo e prazer.
Sem essas bênçãos do evangelho, admito, fica complicado renunciar ao mundo. Isso por que ele ainda exerce sua influência. Para completar esse raciocínio, seguem-se as palavras de Jesus:
“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” (João 14.21.)
E como foi com Paulo deve ser conosco. O que define nosso cristianismo é a veracidade da nossa conversão. É ela – que é um presente de Deus, vale ressaltar – que nos faz odiar os manjares deste mundo.
Se ainda não é assim, isso significa que o evangelho vivido é o anátema, humanista e o “da moda”. Queira Deus que você não esteja incluído no rol dos que se envergonham com as decisões que o evangelho nos exige ou no rol dos que ignoram essas decisões.
Mas se for, o conselho é o seguinte: peça a Deus pelo seu poder revelado no evangelho. Ele, e não a religiosidade vendida por aí, é capaz de nos fazer amar sua vontade e de nos opor a essa cultura de afronta a Deus.
Apesar de eu destacar a questão do Carnaval com a pequena estória no início, essa questão se abrange para todas as áreas de nossa vida em que nossa fidelidade a Deus é posta à prova. Para não termos vergonha da proposta do evangelho, repito, somente o Poder de Deus em nós.
Para finalizar, eu não podia deixar de passar um recado que vi de uma amiga esses dias: aos cristãos que desejam curtir o Carnaval, favor não se esquecerem de levar a máscara que carregam durante o ano, dentro da igreja.
::Tiago Lino
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